quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Sr. Tadamasa Ishikawa, do primeiro Clube dos Criadores Amadores de Ranchu do Japão fala da raça




BRINCANDO DE RANCHU

A variedade ranchu é conhecida como “rei dos kinguios” e muitas pessoas são atraídas pela sua criação de estilo tradicional. Procuramos o senhor Tadamasa Ishikawa, atual responsável do primeiro Clube dos Criadores Amadores de Ranchu do Japão, o “Kangyokai”, para nos ensinar como apreciar melhor essa variedade.

Definir o seu estilo de criação

Quando surge o interesse pela criação da variedade ranchu, perguntas como “como cuidar de um ranchu?” e “como proceder para ter uma criação?” acabam, logo de cara, inibindo algumas pessoas. Para esclarecer essas dúvidas, Tadasama Ishikawa diz existirem três pontos básicos que devem ser analisados:
- Como pretendo apreciar
- Quanto espaço eu disponho
- O clima da região onde estou localizado
Só assim é possível dar o primeiro passo para o começo de uma criação.
A primeira pergunta, “como pretendo apreciar”, refere-se à satisfação que a pessoa busca criando um ranchu. É possível apreciar o nado de um único exímio exemplar pelo vidro de um aquário como também se podem apreciar a composição de muitos deles pela superfície de um lago. Além disso, pode-se adquirir um exemplar já adulto para criação como também alguns filhotes para ir criando com o tempo. Existe ainda a possibilidade de preparar um lago, fazer o acasalamento, retirar os alevinos e prepará-los para uma futura exposição. Dentre as inúmeras possibilidades de apreciação dos ranchu, é preciso escolher a que mais combina com a pessoa.

Ishikawa explica ainda que na opção de preparar um filhote para uma exposição, diferentemente de outros peixes, é possível não só apreciar como também “construir” seu próprio exemplar. Muitos criadores ficam fascinados por esta possibilidade e se diz até que os ranchu existem até hoje graças ao trabalho desses criadores e à produção de vários cruzamentos.  Dessa forma é possível imaginar o porquê de os criadores de ranchu ficarem tão aficionados no processo de criação dessa variedade.

Quanto à segunda pergunta “quanto espaço eu disponho” é preciso analisar o lugar onde os ranchu vão ser criados, suas dimensões e materiais utilizados. Isso varia principalmente de acordo com o local em que o futuro criador está localizado. “É necessário definir quanto espaço a pessoa disponibilizará para a criação de ranchu”, diz Ishikawa. A priori, é difícil fazer procriação em espaços muito limitados. Não adianta querer fazer cruzamentos para obter filhotes diferenciados se, ao mesmo tempo em que existem pessoas que podem ter um lago, há pessoas que só podem disponibilizar um pequeno aquário. É possível limitar a forma de criação a partir deste critério.

Mas é muito cedo ainda para que a pessoa desista de seu desejo de criação. Existem relatos de pessoas que criam seus ranchu usando os espaços de varanda e/ou cobertura dos prédios onde moram, constroem lagos artificiais utilizando plástico ou FRP[*] ao invés de concreto. Com um pouco de criatividade é possível derrubar os obstáculos para começar uma criação. É claro que, quanto maior o espaço disponível, espera-se melhor desenvolvimento dos peixes devido às baixas variações nas condições da água. Assim, é desejável um espaçamento de acordo com o tamanho da criação.

E o terceiro ponto “O clima da região onde estou localizado” se trata de analisar as condições climáticas da região onde a pessoa está localizada e pretende começar a sua criação de ranchu. No Japão, as condições climáticas variam muito desde o extremo norte até o extremo sul e, se tratando de criar os peixes em ambiente externo, é necessário tomar algumas providências. Com certeza, quanto mais ao norte, mais difícil fica manter uma criação em ambiente externo[*]Mas mesmo assim, existem pessoas que utilizam estufas e outros meios para criar e procriar os ranchu.

Existem regras e truques diferentes para a criação de ranchu em cada tipo de região. E graças a essa imensa variação, a criação de ranchu fica ainda mais interessante: é preciso pesquisar a fundo, obter muitos tipos de informações para que sua criação dê os melhores resultados. “É melhor obter informações com os criadores da sua região do que tentar fazer tudo sozinho. É preciso aprender com a terra!” afirma Ishikawa.

Analisando esses três pontos básicos por diversos ângulos é possível identificar com clareza o tipo de criação de ranchu que mais se adequará a você.

A água ideal para o Ranchu

O próximo passo, independentemente do tipo de criação ou da região onde se criará os ranchu, é verificar a água. Ishikawa explica que a preparação da água é um passo fundamental para qualquer tipo de criação de ranchu e que a maioria dos problemas que as pessoas relatam em relação à saúde de sua criação é tem como causa a água utilizada.
A água ideal para a criação de ranchu é a aomizu (“água azul/verde”) que é uma água rica em fitoplâncton. Como razão para o fato, explica Ishikawa, pode-se considerar a origem do ranchu. Mesmo o ranchu sendo um peixe criado artificialmente pelo homem, é preciso aproximá-lo das condições da natureza. Para entender isso, basta lembrar o ambiente natural do funa[*]: esse gênero não gosta das águas transparentes e cristalinas mais próximas da superfície, mas aprecia muito as águas turvas de média e baixa profundidade.  Conseqüentemente, o ranchu sendo um tipo de kinguio, a aomizu é indicada para a sua criação.

Quanto à aomizu, além da localização regional da criação, é preciso prestar atenção tanto às variações de luz solar incidente e temperatura como também à ventilação. Quando a criação fica em local sem muita circulação de ar, a água fica estagnada, aumentando demasiadamente o acúmulo de matéria orgânica que é maléfica aos peixes. São necessárias algumas manutenções durante cada estação do ano. No verão, por exemplo, torna-se muito escura rapidamente, demandando mais atenção nesse item. Quando fica escura demais é preciso fazer uma regulagem para que fique da cor ideal. Para a criação de ranchu, indica-se o tom do “chá verde no ponto de beber”, diz Ishikawa.
Como escolher o ranchu

Ishikawa define o ranchu como uma “brincadeira de adulto”. Entre os motivos da sua popularidade, destaca que o ranchu “é um peixe que combina perfeitamente com o Japão e com os japoneses. Não é necessário ter um lago como no caso dos nishikigoi (carpas ornamentais) e pode ser apreciado facilmente em espaços de tamanho limitado. Além disso, as cores vermelho e branco, características do ranchu, são do gosto dos japoneses há muitos anos”.

O gosto pela criação de ranchu se espalhou por todo o continente, mas é possível notar as peculiaridades de cada região através dos campeonatos e das exposições que são realizados. Se compararmos a criação de ranchu ao sumo (luta marcial), há aqueles que são fortes e grandalhões, bons nocauteadores, como AkebonoKonishiki, mas também existem os mais elegantes e de movimentos ágeis. Também se pode comparar às diferenças entre as silhuetas femininas e masculinas. Além disso, em um campeonato, é preciso analisar os diversos tamanhos e disposições de cores e manchas, mas o mais importante para poder escolher um ótimo exemplar é conseguir ter uma visão geral das qualidades e defeitos. É claro que cada examinador tem suas preferências, mas cabe a ele conseguir apontar não só os pontos eliminatórios, mas também destacar as principais qualidades dos candidatos de forma justa e honesta. Ishikawa enfatiza que os examinadores não devem se esquecer destas regras básicas no momento da escolha.

O ranchu tem três principais partes: cabeça, tronco e cauda, mas Ishikawa diz que a cauda merece maior ênfase que as outras duas partes. “A cauda define o nado do peixe. Se fosse um navio, a cauda teria a mesma importância que o motor ou a hélice têm, influenciando diretamente no seu nado. Se fosse um pássaro, teria a mesma importância dos ombros que sustentam as asas. De nada serve uma bela cauda se não cumpre a sua função de aperfeiçoar o nado”, diz Ishikawa.

Para poder saber que nado é esse é preciso participar das exposições e campeonatos e observar o tanto de peixes que puder. “Os ranchu não são objetos, são seres vivos. Uma boa aparência soma muitos pontos, mas é importante também saber apreciar a qualidade de seu nado. Analisar fotos não é o suficiente. Mais que isso, é importante observá-los vivos, em movimento”, ensina Ishikawa. O ranchu mostra o seu verdadeiro valor quando está nadando. Formas desenhadas artisticamente, cores vibrantes formando as mais belas manchas e nado perfeito... o ranchu é realmente um peixe fascinante.

 


[*] Souke – Termo que designa a família originária de uma tradição e/ou variação. Família primária e/ou de criação.
[*] FRP (Fibre-reinforced polymer) – Tipo de material composto por um polímero (vinil, epóxi, plástico poliéster, etc.) e reforçado por fibras (de vidro, carbono, fibras sintéticas, etc.).
[*] No Japão, a região norte é caracterizada por verões muito quentes e úmidos, com períodos longos de sol sem chuvas, e invernos rigorosos com muita neve (clima de monções).

[*] Funa – Peixe do gênero Carassius, da família Cyprinidae (a mesma da carpa). Muito comum no Japão e na Eurásia, vive em água doce. Geralmente tem coloração prateada nos tons de preto e/ou marrom e ventre branco. Mede de 10 a 30 cm, mas pode atingir 40 cm em alguns casos. O kinguio é origem de uma mutação natural que ocorreu do funa, que teve sua coloração alterada para tons de vermelho (denominando-se bifuna) e, após mais mutações, kinguio.



Texto: da Redação
Fotos: Tadamasa Ishikawa (souke[*] de ranchu)

Apoio de reportagem: Tadamasa Ishikawa (souke de ranchu)

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